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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Nova Estrelinha,


Esses dias, uma perda próxima a mim, me fez ter um turbilhão de sentimentos. Senti o quanto perco tempo e energia com pensamentos que não merecem importância, com lamentações fora de hora, com se’s, e tudo mais que não interessa. A história que conto hoje é digna de fim de novela do Manoel Carlos, mas infelizmente não houve superação e nem final feliz; talvez apenas um descanso após anos de luta.

Hoje falo sobre o Carlinhos, que aos 2 anos descobre que estava com câncer. Um bebê ainda, nem sabia direito da existência das coisas, mas já levava um grande fardo. Desde então vinha fazendo o tratamento religiosamente, vindo de Ipubi, interior de Pernambuco (653km = 7hrs. 56min.), para o Recife.

Tinha dificuldades de relacionamentos, não por ser uma criança introvertida (pelo contrário, sempre muito levado) ou por opção, na sua cidade sofria preconceitos, as pessoas sentiam medo de aproximar e assim, também, ficar doente, estupidez, ignorância? eu diria falta de instrução, a maior carência da nossa sociedade.

Aqui, além do tratamento, ele fez amigos e ganhou muito carinho e esperança. Foi, numa dessas vindas para a quimio que meu primo o conheceu e logo se apaixonou, e “adotou”, um menino que esbanjava lições. Quem o via após uma sessão de quimioterapia nunca imaginaria o que estava passando (já saia correndo), a não ser pela careca. Não conhecia refrigerante, quase não tinha brinquedos, e aqui, além de bens materiais, ele encontrou uma segunda família.

Recebeu alta ano passado, seu sonho era ver seus cabelos, simples e natural para alguns, irônico não?, então este ano, a médica descobre que esse “bicho”, que de fato tem zilhões de cabeças, tinha atingido outro órgão (metástase), e a única esperança dá a má notícia: não vale mais apena lutar, será em vão e causará mais sofrimento.

Quem é que pode decidir isso? Só Ele sabe a hora certa e o propósito de cada vida, e a do Carlinhos foi apenas de ensinar. Quem é você para dizer que sua vida não é boa, ou que está cansado? Quem é você para dizer que é infeliz, que seus problemas não tem solução? Injusto ou não, quem decide isso? Quem é você para perder tempo? Erga-se, somos serem dotados de puro amor, digno de viver. E quem sou eu para colocar um leitor, e a mim mesma em xeque? Como diz minha mãe: só não a jeito para morte, o resto a gente improvisa. Ela está totalmente certa.

Aos 7 anos Carlinhos se despede desse plano. Hoje ele virou uma nova estrelinha, e a maior legado foi a força e a alegria de estar vivo.
E sim, ele conseguiu ver um pouco do seu cabelo curto.

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